HISTÓRIA DO JIU JITSU
Conde Koma e trupe em Cuba, em 1912. Foto: Acervo Fabio Quio
Mitsuyo Maeda e seus primeiros alunos no Brasil.
Maeda colecionaria histórias saborosas em terras brasileiras. Após rodar pelo país, o faixa-preta de Jiu-Jitsu se estabeleceu em Belém do Pará.
Certo dia, encarou o desafio de um capoeirista conhecido como “Pé de Bola”, de cerca de 1,90m e quase cem quilos. Maeda não se fez de rogado e ainda deixou o ousado rival portar uma faca na luta. O japonês desarmou-o, derrubou e finalizou o brasileiro. Conde Koma, como se tornou tradição entre os professores de Jiu Jitsu, também lançava desafios para rivais famosos do boxe. Foi o que fez com o afamado boxeador americano Jack Johnson, que jamais aceitou a luta. Em 1917, um adolescente de nome Carlos Gracie (1902–1994) viu pela primeira vez, em Belém, uma apresentação do japonês que era capaz de dominar e finalizar os gigantes da região. Amigo de seu pai, Gastão Gracie, Maeda concordou em ensinar ao garoto irrequieto a arte de se defender. Em suas aulas, ensinava a Carlos e a outros brasileiros – como Luiz França, que mais tarde seria mestre de Oswaldo Fadda – os conceitos de sua arte: em pé ou no chão, a força do oponente deveria ser a arma para a vitória; para se aproximar do adversário, o uso de chutes baixos e cotoveladas deveriam ser os artifícios antes de levá-lo para o chão.
Para evolução nos treinos, lançava mão do randori, o treino à vera com um companheiro.
Conde Koma, Carlos Gracie e Helio Gracie
Foto Histórica de Carlos e Helio Gracie
As vitórias da família em lutas sem regras foram se acumulando e virando lendas e manchetes nas primeiras páginas. Os alunos famosos também – artistas, arquitetos, ministros de estado, prefeitos, governadores, cirurgiões e doutores de todos os ofícios.
Além dos desafios, os campeonatos entre praticantes, com regras exclusivas do Jiu-Jitsu, se fortaleciam, abastecidos por dezenas de academias diferentes. Nos anos 1960, quando Carlson Gracie já pegara o bastão de seu tio Helio como linha de frente do clã no vale-tudo, um passo importante foi dado para a consolidação do Jiu-Jitsu esportivo. Em 1967, a Federação de Jiu-Jitsu da Guanabara, no Rio de Janeiro, foi criada, sob autorização da Confederação Nacional de Desportos do país. Entre as regras ainda primitivas, manobras como queda, montada de frente com dois joelhos no chão e pegada pelas costas rendiam um ponto ao competidor. A duração dos combates na categoria adulta era de cinco minutos, com prorrogação de três. O Jiu-Jitsu ganhava oficialmente tempo e pontuações.
O presidente da Federação era Helio Gracie, e o presidente do Conselho Consultivo era Carlos. Seu primogênito, Carlson, era o diretor do departamento técnico. O primeiro vice técnico era Oswaldo Fadda e o segundo, Orlando Barradas – ambos professores de Jiu-Jitsu. João Alberto Barreto, notável aluno dos Gracie, foi nomeado diretor do departamento de ensino, que tinha como vice-diretor um irmão de Carlson, Robson Gracie – todos hoje grandes mestres da arte.
Acervo Jornal O Globo
Royce Gracie o Primeiro Campeão do UFC.
Nos anos 1990, a arte teve um novo boom. Em duas frentes: criado por Rorion Gracie em 1993, o Ultimate Fighting Championship deu o pontapé inicial (no queixo) no esporte midiático conhecido hoje como MMA. A partir do ídolo Royce Gracie, e com o suor derramado por irmãos e primos aparentemente invencíveis como Rickson, Renzo, Ralph, Royler, Ryan, Carley e companhia, o Jiu-Jitsu como arma de defesa pessoal estava consagrado.
Em outra frente, Carlos Gracie Jr. seguiu a obra do pai na organização dos campeonatos e no fortalecimento da arte como esporte regulado. Estava criada, assim, em 1994, a Federação Internacional de Jiu-Jitsu, assim como a Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu, filiada ao Comitê Olímpico Brasileiro, que hoje promovem torneios para mais de 3 mil atletas de mais de 50 países, como o Campeonato Mundial, realizado anualmente desde 1996.
Um século depois de Conde Koma desembarcar no Brasil, nosso Jiu-Jitsu hoje pode ser praticado do Alasca à Mongólia, de Abu Dhabi ao Japão.